quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O Tempo Livre Industrializado [1]

As longas Jornadas de trabalho são cada vez mais aceitas na sociedade moderna, criando uma dependência do trabalhador. Caprichosamente articulados,férias e feriados nas empresas têm um intuito certo: deixar os cidadãos apáticos, culpados e cada vez mais ávidos em trabalhar.

II - O inicio

A cultura ocidental tradicionalmente estigmatizou o trabalho como uma atividade degradante para o ser humano, considerando-a indigna de homens livres. Nesta conjuntura o trabalho é imputado como uma tortura; Aliás a análise etimológica da palavra trabalho indica que esta se origina do termo "Tripalium, um instrumento de tortura. Todavia, essa perspectiva negativa em relação ao trabalho só encontra significação na estrutura laboral regida pela relação de dominação em entre patrão e empregado, sendo incompatível com a experiência de trabalho a qual o ser humano adquire a capacidade de se realizar existencialmente.

Por conseguinte, o materialismo dialético de Marx (1818-1883) e Bakunin (1814-1976) explica com precisão esse processo: "Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu próprio câmbio material como uma de suas funções. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo - braços e pernas, cabeças e mãos - a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes de forma útil a vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza."Entretanto, as relações sociais de trabalho se caracterizam histórica mente pela desaprovação dos meios de produção das mãos daquele que representa efetivamente o processo construtivo de criação, o trabalhador, que se encontrou na necessidade de vender sua força de trabalho ao detentor dos meios de produção que, arbitrariamente, estabeleceu uma relação injusta na distribuição das riquezas para com seu subordinado, justificando os contundentes versos da internacional Socialista: "Abomináveis na grandeza, Os reis da mina e da fornalha, Edificaram a riqueza sobre o suor de quem trabalha, Todo o produto de quem o usa, A Corja rica o recolheu, Querendo que elas o restitua, O povo quer só o que é seu".

No advento da modernidade, não obstante o seu propalado progresso cientifico, ao invés de ocorrer efetivamente a superação dessas contradições sociais, elas se ampliaram. O desenvolvimento da tecnologia capitalista conduziu ao paulatino decréscimo da capacidade do trabalhador se realizar como ser humano em suas atividades laborais, reconhecendo-se naquilo que ele faz em sua jornada. A divisão técnica da produção e suas crescente mecanização gerem na subjetividade do trabalhador uma contínua repulsa pelo seu objeto profissional, tornando sua atividade maçante, incapaz de lhe proporcionar genuína satisfação existencial.

O trabalho regido pela ordem capitalista em sua frieza se torna apenas um recurso para que o sujeito possa obter o ganho mínimo para a manutenção de sua existência, em verdade, uma sub-vida. O filósofo Paul Lagargue (1841-1911) considera que "á medida que a máquina se aperfeiçoa e dispersa o trabalho do homem com uma rapidez e uma perfeição que não param de crescer, o operário, em vez de prolongar o seu repouso proporcionalmente, redobra seu esforço como se quisesse rivalizar com a máquina. Ó concorrência absurda e mortal!".



Fonte: Revista Filosofia - Ciência & Vida 1 Artigo de um total de 4 que serão publicados no plebeu subversivo ao longo do mês de setembro. Revista Filosofia - ANO VII Nº79 Fevereiro de 2013

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