sexta-feira, 29 de agosto de 2014

MULHER DE FAVELA E O ABUSO POLICIAL

Os moradores de favelas têm o acesso à educação e informação de qualidade dificultados, e até negados, pelo Estado e pela sociedade, que muitas vezes, se julga superior. Assim, não criando condições favoráveis à compreensão das relações sociais, que permitiria o livre pensamento, levando-o a posicionar-se como sujeito ativo e crítico da realidade social.

Entretanto, nas favelas, todo e qualquer direito é arrancado do cidadão na base do fuzil no peito, do tapa na cara. No caso de nós mulheres, moradoras de favelas, é na base do tapa na cara, tapa na bunda, mãos recheadas de maldades em nossos seios e por debaixo de nossas roupas.

Será que nem direito ao nosso próprio corpo temos mais? Já não basta arrombarem nossas casas com chutes ou invadirem com suas chaves-mestras, vão continuar violando nossos corpos?

O Brasil tem cerca de 6 milhões de mulheres que vivem em favelas, em maior concentração nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, segundo o site Agência Patrícia Galvão. Essas mulheres, em sua maioria, são negras, casadas e mães. Entre elas têm as que contam com trabalho remunerado, as que estudam em alguma universidade, movimentando um montante de 24 bilhões de reais, não esquecendo das que chefiam seus lares.

Mulher não significa inferioridade, ou fraqueza. Na favela, muito menos. No entanto, são essas as mulheres mais agredidas, pelas mãos de policiais.

ABUSOS E HUMILHAÇÕES SÃO FREQÜENTES

Normal não é, e nunca será, mas se tornou parte do cotidiano ver mulheres sendo abordadas, sendo levadas para algum canto onde são abusadas, têm seus pertences danificados, e as vezes, até roubados. Se seus objetos caem no chão, são obrigadas a se ajoelharem para pegar, vigiadas por policiais armados, e sarcásticos, que sentem prazer nesse gesto de humilhação e submissão.

O braço armado do Estado, tem se empenhado na missão de extermínio de pobres, criminalizando moradores de favelas, e perseguindo as mulheres dessas mesmas comunidades.

Em 2009, uma moradora da favela da Mangueira, de 21 anos, acusou um policial de estupro. Ele teria agarrado a jovem em seu quarto, e ali ele a violentou, segurando-a contra o berço de seu filho. Ao ir à delegacia registrar denúncia, a família da jovem se depara com a dificuldade de efetuar o registro, e com a falta de colaboração do comando do BOPE, que se negava a informar quais policiais teriam participado daquela operação.

Se agarram na alegação de que todo morador de favela é bandido, e toda moradora é "puta", "piranha" e mulher de bandido, são dessas coisas que eles chamam as mulheres entre um tapa e outro, entre um chute no guarda-roupas e um facada no colchão da cama. Se posicionam em portas de farmácias e padarias, e sempre que uma jovem entra nesses estabelecimentos, são enormes as chances dela ouvir algo do tipo "até que as putinhas daqui são bonitinhas" ou "quem come essa daí, come bem. Muito gostosa". Como se não bastasse ter que ouvir esses insultos, caso a pessoa cogite a possibilidade de denunciar, pois é o certo, esses policiais ameaçam, levando a vítima ao medo e ao silêncio.

ESTUPRADAS POR POLICIAIS: NOVIDADE?

Dias atrás caiu nos ouvidos de muitos, nas folhas de alguns jornais, e na tela de muitas TVs, o caso de 4 policiais que participaram do estupro coletivo de 3 jovens, na favela do Jacarezinho.

O "quase inacreditável" desses trágicos acontecimentos, é que uma grande parcela da população tenta justificar esse terrorismo estatal, com um discurso ofensivo, machista e fora de suas realidades, dizendo que "os policiais não têm culpa, pois as mulheres das favelas são todas putas e dão mole na cara de pau".

A sociedade também tem suas mãos sujas de sangue quando insiste em transformar a vítima em culpada, assim, permitindo que isso continue acontecendo.

As mulheres são vítimas explícitas de abusos policiais nas favelas, e muitas vezes, se vêem abandonadas, enfrentando sozinhas o martírio diário, que é apenas ser quem são.





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