quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Problemas com o monopólio forçado

Pense desta forma: o que haveria de errado em se ter um monopólio da produção de sapatos?  Suponha que eu e minha gangue sejamos as únicas pessoas que podem legalmente fabricar e vender sapatos.  Ninguém mais pode, a menos que eu autorize.  O que há de errado neste arranjo?

Para começar, de um ponto de vista puramente moral, a pergunta é: por que nós?  O que há de tão especial em relação a nós para desfrutarmos deste monopólio?  De onde foi que minha gangue e eu tiramos esse direito de que somente nós podemos fabricar e vender algo e que ninguém mais tem o direito de fazer o mesmo?  Por que somente nós podemos ofertar um bem ou serviço que ninguém mais tem o direito de ofertar? 

Até onde se sabe, sou apenas um ser humano tão mortal quanto qualquer outro.  Logo, de um ponto de vista moral, qualquer outra pessoa deve ter o mesmo 'direito' a este privilégio.
Logo, de um ponto de vista pragmático, qual é a consequência mais provável de minha gangue e eu termos o monopólio da produção de sapatos?  Em primeiro lugar, há o problema dos incentivos.  Se eu sou a única pessoa que tem o direito de fabricar e vender sapatos, você provavelmente não irá conseguir de mim sapatos muito baratos.  Posso cobrar de você o tanto que eu quiser.  Só não irei cobrar caro demais porque você pode acabar decidindo que é melhor não me dar dinheiro e ficar sem os sapatos.  Porém, desde que você esteja disposto a comprar sapatos e tenha o dinheiro para tal, irei cobrar de você o maior preço que puder — como não há concorrência, você não tem outra opção. 

Da mesma maneira, e pelos mesmos motivos, você também não deve esperar que meus sapatos sejam de alta qualidade, pois, desde que eles sejam minimamente úteis, você irá preferir calçá-los a andar descalço — e, sendo assim, irá comprá-los de mim. 

Além dessa probabilidade de que os sapatos serão caros e de baixa qualidade, há também o fato de que eu ser a única pessoa que pode fabricar e vender sapatos me concede um grande poder de chantagem sobre você.  Suponha que eu não goste de você.  Suponha que você tenha me ofendido em outra ocasião.  Eu simplesmente não irei vender sapatos para você — pelo menos por algum tempo, enquanto meu humor não melhorar.  Logo, tal privilégio monopolista também me concede a capacidade do 'abuso de poder'.

No entanto, os problemas não se resumem apenas à questão dos incentivos.  Suponha que eu seja um genuíno e perfeito santo, e esteja verdadeiramente disposto a fabricar os melhores sapatos possíveis para você, e a cobrar o menor preço que eu puder.  Eu realmente não irei, em momento algum, abusar do meu poder, pois sou uma pessoa totalmente confiável; sou um príncipe entre os homens (não no sentido maquiavélico).  Ainda assim haverá um problema incontornável: como saberei se realmente estou fazendo o melhor trabalho possível com estes sapatos?  Afinal, não há concorrência. 

Sim, eu poderia fazer uma pesquisa junto aos consumidores para tentar descobrir que tipo de sapato eles querem.  Mas o problema é que há várias maneiras distintas de se fabricar sapatos.  Há métodos mais caros e há métodos mais baratos.  Se não há um mercado na área de fabricação de sapatos, não há formação de preços para os métodos de produção empregados na fabricação de sapatos.  Sem formação de preços, não há como eu calcular os métodos mais eficientes para se produzir sapatos.  E, igualmente, por não haver um livre mercado na venda de sapatos, não há também formação de preços nesta área.  Sem saber ao certo o preço de venda, e sem ter como calcular os métodos mais eficientes para se produzir sapatos, não terei como calcular custos, e minha contabilidade de lucros e prejuízos estará impossibilitada.  Terei simplesmente de recorrer ao método da adivinhação. 

Portanto, mesmo que eu realmente esteja fazendo o meu melhor, a quantidade de sapatos que irei fabricar e a qualidade que empregarei podem não ser as mais bem indicadas para satisfazer as preferências das pessoas, e terei enormes dificuldades para descobrir o melhor procedimento.

Escrito por Roderick T. Long




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