Texto e fotos por Piero Damiani
Sempre tive curiosidade de visitar Cuba, não só pela sua história mas também pela quantidade de oportunidades de uma boa foto que existem por lá. Meus amigos e família, por sua vez, sempre foram contra: “Não existe liberdade lá!” “Fidel Castro é um ditador”. Ok, ok. Depois de muito tempo insistindo, finalmente veio a frase de impacto: “Então vai pra Cuba!” - e eu fui.
Para começar, devo lhes informar: não, não sou comunista. Sou apenas um fotógrafo que tem como trabalho viajar ao redor do mundo e registrar suas culturas, cidades, tradições e costumes. Mas nunca na minha vida presenciei a experiência socialista, apenas o discurso (que sinceramente, não me atrai nem um pouco). A oportunidade de viajar para Cuba por três dias e ter essa experiência foi um desafio: vinte horas de viagem com diversas escalas, o desafio da língua, a então desconhecida chance de ser preso por tirar uma foto que não deveria, entre outras. Que se dane.
Fui para Havana no dia 5 de Janeiro de 2012, e a primeira coisa que eu quis foi me hospedar em um hotel no centro da cidade, nada de litoral afastado da população. Não estava lá para curtir, e sim ter esse contato humano através da minha fotografia.
Sai do aeroporto e me deparei com um rapaz de 33 anos chamado Erick. Falava inglês de forma fluente, o que me assastou pra caralho! Seria um espião cubano atrás de mim? Vai saber, minha mãe dizia que no tempo da Guerra Fria haviam espiões vendendo sorvete na rua na Austrália. Mas ok.
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
"ENTÃO VAI PRA CUBA!" OK.
15:07
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Entramos em um moto-taxi, ou “Coco Taxi”, que apesar de não ser tão confortável era rápido, e incrivelmente barato. A viagem do aeroporto até o Hotel Inglaterra durou 10 minutos, e paguei exatos 2 dólares americanos. Eu moro em Melbourne, e a distância da minha casa até o aeroporto é um pouco maior de carro, uns 15 minutos. Geralmente o táxi fica em torno de 30 dólares. Comecei a rir para Erick quando ele me falou do preço. Dei uma gorjeta de 5 dólares, que ele recusou. Então dez dólares, recusados novamente. A razão: “Não precisamos que vocês tenham pena da gente. Com dois dólares posso colocar comida em casa por dois dias para meus filhos. Vá curtir sua estadia narigudo.” - me contou quase me expulsando da moto. Ok, uma lição de moral para a vida, e um elogio ao meu nariz.
A vista do meu quarto era coisa de cinema. Fiquei relativamente perto da praia, e pude ver as casas e apartamentos com suas rachaduras e defeitos. Na rua, ninguém parecia muito triste com isso. Crianças brincando na frente da entrada do hotel, e poucos carros passando. Aliás, a diferença de qualidade de ar que senti de Melbourne para Havana era absurda. Incrivelmente mais limpo! Comentei isso com o porteiro Eduardo, que apesar de não falar inglês, acabamos virando grandes amigos. Me recomendou dois lugares para ir naquela tarde: a barbearia Salon Guamá e o restaurante El Bosque.
Ai eu senti a diferença, quando tanto o restaurante como a barbearia não aceitavam moeda estrangeira. Eu, que pensei que se eu fosse com três mil dólares para lá faria a farra, acabei tendo de lavar a louça do restaurante para poder comer um prato extremamente delicioso, que a dona Maria fez para mim. Valeu a sujeira.
A vista do meu quarto era coisa de cinema. Fiquei relativamente perto da praia, e pude ver as casas e apartamentos com suas rachaduras e defeitos. Na rua, ninguém parecia muito triste com isso. Crianças brincando na frente da entrada do hotel, e poucos carros passando. Aliás, a diferença de qualidade de ar que senti de Melbourne para Havana era absurda. Incrivelmente mais limpo! Comentei isso com o porteiro Eduardo, que apesar de não falar inglês, acabamos virando grandes amigos. Me recomendou dois lugares para ir naquela tarde: a barbearia Salon Guamá e o restaurante El Bosque.
Ai eu senti a diferença, quando tanto o restaurante como a barbearia não aceitavam moeda estrangeira. Eu, que pensei que se eu fosse com três mil dólares para lá faria a farra, acabei tendo de lavar a louça do restaurante para poder comer um prato extremamente delicioso, que a dona Maria fez para mim. Valeu a sujeira.
Depois disso, comecei a andar pelas ruas de Havana. Muitas bicicletas e crianças brincando nas ruas quase vazias. E claro, muitos estrangeiros que me olhavam e falavam “Salve Camarada!”. Demorei para explicar para um chileno que eu não era comunista, e que estava ali apenas por curiosidade. Com um inglês meia boca, ele me disse: “Hm. Daqui a dois dias, você sairá de Cuba sendo comunista!” - apesar de discordar, me fez refletir sobre meu primeiro dia em Havana. Tentei passar esse reflexo para as fotos, tentando ao máximo não abordar a condição da cidade e sim quem vive por lá.
Voltei para o hotel e dormi. Por longas dez horas - mais do que deveria. Acordei correndo para perguntar ao Eduardo qual seria o lugar perfeito para ir hoje. Ele me levou até a calçada, olhou para o céu por alguns segundos e disse sem pestanejar: MAR!
E as águas de Havana são as mais lindas que vi até hoje. As ondas batendo nas pedras, o barulho da brisa do mar sem interferência sonora alguma das ruas, em uma cidade onde vive tanta gente. Das 560 fotos que tirei em Havana, não consegui ser neutro: 250 foram só do litoral.
E foi lá que enfim conheci a pessoa que de fato me fez amar Cuba. Marina, uma artista visual de 25 anos, andava por ali quando resolveu perguntar sobre a minha câmera. Longas horas de conversa na beira do mar. Me levou no fim do dia para ver seus grafites, obras de arte que só agora estão sendo popularizadas em Havana. Em um deles, resolveu pegar uma caneta e escrever no balão em branco: “Te quiero”. Não preciso dizer o que aconteceu, certo?
Meu último dia em Cuba. Dentro do taxi, lembrei do que aquele chileno havia me dito. Ainda discordo, não sou comunista. Mas não vejo lugar melhor no mundo do que Havana. Talvez seja porque eu tenha condições de viver em Havana, não sei. Talvez se eu tivesse nascido lá pensaria diferente. Mas de todas as pessoas que conheci, conversei, me apaixonei em Havana, nunca vi um momento sequer de arrependimento, tristeza ou ódio.
Portanto, deixo aqui meu recado final: se te mandarem para Cuba, não pense duas vezes. Vá, explore, se aventure, se apaixone.
Fonte: Guerrilha GRR
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