ONDE TUDO COMEÇOU?
No dia 06/02/14, ocorreu um protesto no final da tarde contra o aumento da passagem (Candelária x Central), onde, após policiais militares dispersarem manifestantes do interior da Central do Brasil, o cinegrafista, Santiago Ilídio Andrade, da Rede Bandeirantes foi atingido na cabeça por um 'rojão de vara'.
Durante a dispersão ainda era boato o que acontecera com o cinegrafista, aconteceu outra tristeza. Carlos Ailton, camelô na Lapa, foi atropelado por um ônibus e não resistiu. Vale ressaltar a solidariedade de dezenas de manifestantes em tentar ajudar-lo.
Com a grande repercussão feitas pelas mídias marrons, o vídeo que mais circulava era da Tv Brasil, na qual durante uma reportagem que noticia o momento em que o suspeito larga o objeto, que seria o 'rojão de vara', no chão.
No dia 10/02/14, a morte dele foi confirmada e noticiada. Todos tristes e abalados com a notícia. Era hora de refletir. Por que aconteceu?
Será que nós, ativistas, gostamos de nos arriscar assim? Ir para rua sabendo da forte repressão da polícia? Todos nós sabíamos que já tinham tido vítimas durante protestos, inclusive aqui no Rio de Janeiro, o ator e guerreiro, Fernando Cândido. Por que, mesmo com o número de manifestações crescente desde junho de 2013, o governo não escutou nenhuma de nossas pautas?
Também sabemos dos ataques de policiais à jornalistas e cinegrafistas, onde o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro tomou posição e cobrou das autoridades mais segurança.
22/10/13 - Nota pública em repúdio à violência contra jornalistas (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro):
http://migre.me/l6hcG11/03/14 - Nota pública em repúdio à violência policial contra jornalistas (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro):
http://migre.me/l6hvk
Refletindo mais... então, porque o Santiago não estava usando um equipamento de segurança? Isso nos faz lembrar da Rede Bandeirantes. Será que ela ofereceu ao seu empregado um mínimo de segurança?
No dia 06/11/11, Gelson Domingos, também era cinegrafista da Rede Bandeirantes enquanto fazia uma cobertura jornalística da operação que os batalhões de Choque e de Operações Policiais Especiais (Bope) faziam na Favela de Antares, em Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro. De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, o cinegrafista foi enviado à uma zona de guerra com um colete de categoria II-A (9 mm; 40 S&W). Infelizmente ocorreu a fatalidade, Gelson foi atingido no peito por um tiro de fuzil e o colete foi perfurado.
Voltando ao real assunto. Após a divulgação da repercussão, apareceu o primeiro suspeito, Fábio Raposo. Não vestia preto, para a infelicidade da mídia. Agora é aonde tudo começa. Apareceu a figura principal, Jonas Tadeu, o primeiro advogado do Raposo. Ele foi advogado de Natalino Guimarães, ex-deputado estadual no Rio de Janeiro e miliciano cuja prisão foi fruto da CPI das Milícias, comandada por Marcelo Freixo.
Fábio Raposo, em depoimento à polícia, afirmou que quem acendeu o explosivo foi Caio Souza, que se entregou à polícia no interior da Bahia. Ainda lembrando que a Globo estava no mesmo avião que o advogado e os oficiais enviados para capturarem Caio.
Estranhamente o Jonas Tadeu, advogado do Fábio, assumiu também a defesa do Caio. Pela primeira vez na história do direito um sujeito 'dedurado' contrata o mesmo defensor do sujeito que o 'dedurou'. E isso ocorre não por razões pessoais, mas sim porque as teses de defesa são conflitantes! Um acusado, para reduzir a sua pena ou até para ser absolvido, vai tentar comprovar que a responsabilidade pelo ato criminoso é do outro. Por isso é absurdo que ambos sejam defendidos pelo mesmo profissional, pois sendo a tarefa do advogado a de usar todos os meios para defender os interesses de seus clientes, isso se torna impossível se o interesse de um conflita com o interesse do outro.
No dia 13/02/14, durante uma entrevista à Globo News, Jonas Tadeu diz que Caio estava planejando ir para o exterior e que ele o demoveu dessa ideia. (HÃ??) Um dos motivos que embasam as prisões preventivas é justamente o receio de que o acusado fuja. A função de um advogado que esteja realmente interessado em defender o seu cliente é tentar soltá-lo o mais rápido possível, não denunciar seu paradeiro.
No dia anterior, durante uma entrevista à Rádio Jovem Pan, Jonas Tadeu disse: "O Caio é um jovem miserável, muito pobre. Esses jovens são aliciados por grupos, recebem ajuda financeira, uma espécie de mesada para participar dessas manifestações, nesse sentido de terrorismo social". Como que Caio então poderia planejar fugir para o exterior do Brasil?
Com essa entrevista, a mídia e o governo conseguiram o que queria, com mais um absurdo no direito de defesa. Jonas ainda continuou...
Segundo o advogado, em entrevista à GloboNews, os jovens pobres chegam a receber R$ 150 por protesto. De acordo Tadeu, ônibus iam buscar jovens moradores de áreas pobres para participar dos protestos. Ainda durante a entrevista, Tadeu sugeriu que a entrevistadora investigasse partidos políticos, deputados e vereadores que teriam participação no aliciamento dos jovens para participar dos protestos. Segundo a defesa de Souza e Raposo, os rojões, máscaras e o dinheiro são entregues por quem alicia esses jovens.
A afirmação de que o Caio recebia 150 reais para participar de manifestações é um desastre para a defesa. Pode ser bom para a luta política contra as manifestações, etc. Mas para o acusado, e é dever do defensor defender o acusado, essa informação é catastrófica. Gera uma qualificadora caso ele venha a ser condenado. Homicídio já dá uma pena alta. Homicídio por motivo fútil (receber 150 reais) dá uma pena ainda maior.
Em meio à essas declarações, veio à tona a planilha de doações da Operação Mais Amor, Menos opressão voltada para moradores de ruas que aconteceu na época natalina. Um ato que deveria ser lindo, clima de festa e inclusão, mas a sociedade já estava tão alienada e criminalizando fortemente os movimentos sociais que entrou rapidinho na cabeça das pessoas que aquilo fosse um crime. Estava criado o bode expiatório perfeito.
No dia 09/02/14, aconteceu o inexplicável com o jornalismo. A seguinte manchete ganha repercussão nacional: "Estagiário de advogado diz que ativista afirmou que homem que acendeu rojão era ligado ao deputado estadual Marcelo Freixo".
Jornalismo ZERO! E assim, começou a grande perseguição à Elisa Quadros e a associação de manifestantes com formação de quadrilha e terrorismo.
Após essa manipulação jornalística, ontem, dia 19/08/14 foi julgado que Caio Silva e Fábio Raposo irão à júri popular e continuarão presos.
Nada que o Jonas Tadeu falou foi provado até hoje, nem pagamentos, nem envolvimento de partidos e Black Bloc's, nem ônibus que buscam manifestantes em casa. Jonas não denunciou nomes, não denunciou partidos específicos, apenas especulou em entrevista, sem nenhuma prova de nada, fazendo seu papel midiático.
Caio e Fábio responderão por homicídio triplamente qualificado, com intenção de matar, podendo pegar até 30 anos de prisão. Dois rapazes, sem antecedentes criminais, sem histórico de conduta violenta, sem intenção de dolo, condenados a 30 anos de cadeia por um show da mídia.
Muito provavelmente se o mesmo fato acontecesse fora do envolvimento de manifestações, os dois estariam sendo julgados por um crime culposo, que não há intenção de matar. E muito provavelmente estariam respondendo em liberdade. Não estamos aqui diminuindo a perda da família de Santiago, nem queremos defender que ninguém saia impune do que faz. Mas defendemos que todos tenham direito a julgamento justo.
Vale ressaltar aqui que o caso dos dois está sendo usado contra outros manifestantes, no inquérito "Firewall" de 3 mil páginas. Até aonde o Estado vai para calar a voz do povo, para que tudo permaneça como está?
Vale destacar, que este processo "Firewall" de 3 mil páginas incluía um mandato de busca ao Filósofo Russo Bakunin morto à um século.
Ninguém fica pra trás.